O contrário e o seu inverso (Baudrillard) vs aceitar que “O progresso e a catástrofe são dois lados da mesma moeda” (Virilio, Penser la Vitesse)
Confrontando as visões de Paul Virilio e Jean Baudrillard, conforme descrito noutro post.
Even those who are themselves responsible for the technological revolution—people like Microsoft founder Bill Gates or Facebook founder Mark Zuckerberg—are now admitting for the first time that unemployment caused by technological advances […] could become the biggest global challenge of the twenty-first century.
Andres Oppenheimer – The Robots Are Coming!
EL SECRETO ES LA GENTE
…vas a ver con tus propios ojos lo que te estoy diciendo. Los cafés están llenos de jóvenes con sus laptops, metidos de lleno en sus proyectos de start-ups, consultándose de mesa en mesa sobre cómo solucionar problemas de software aunque no se conozcan entre sí.
Andrés Oppenheimer – ¡Crear o morir!
Eis algumas ideias presentes neste texto sobre Baudrillard que me chamaram à atenção e que podem se refutáveis, pelo menos em parte.
- “o objeto perdeu o seu valor de uso e o seu valor de troca para ressurgir como função, como valor de signo. O interesse não está nos objetos, mas no sistema de signos que os espelha.”
- “Compreender a atualidade é compreender a mensagem contida no sistema de signos que a constitui.
- Baudrillard procedeu à crítica da economia política do signo a partir não da produtividade, mas da consumidade, da capacidade de consumir. O consumo muda os signos e serve à economia. Como no processo digestivo, o sistema precisa da aquisição de bens e serviços para se reproduzir. De modo que a racionalidade se inverteu: deixou de ser a racionalidade da produção para ser a racionalidade do consumo.”
- “O verdadeiro valor do tempo é o de ser perdido.”
Neste ponto, há uma aproximação à argumentação de Virilio: a velocidade tudo dispersa, até nos tornar inertes, “amarrados” à tecnologia para imergir em tudo e nada perder de tudo a que já temos acesso. Se isso é sempre conteúdo válido ou não… proveitoso ou não… depende das escolhas pessoais de cada um. Porque há sempre duas faces da mesma moeda.
Prosseguindo, e aproximando-me da questão fundamental desta conversa, o sentido da revolução tecnológica, outro exemplo de como a tecnologia pode ser usada em diferentes planos, mas é perspetivada negativamente, uma vez que até o ócio deixa de ser prazer para ser uma luta contra o tempo e ter de ser conquistado ao minuto:
- “A tecnologia que diverte é a mesma com que se trabalha.”
Virilio poderia dizer: “Não há pessimismo nenhum nisso, nenhum desespero. É um fenómeno racional.” (Penser la Vitesse, 00:01:19.16 – 00:01:25.16)
Pedagogicamente, lembro-me logo da gamificação em contexto de sala de aula ou de formação profissional. É uma estratégia cada vez mais aplicada. E a simulação também: aprender a voar, aprender a conduzir, aprender a reagir em determinados cenários, aprender a responder a um cliente, aprender línguas…
- “As relações individuais são as relações com os grupos.”
- “O signo estabelece a posição dos indivíduos e os laços sociais, tem uma racionalidade própria.”
Sim… precisamos funcionar em rede e ter signos que nos estruturem… sempre foi assim. Pensemos militarmente, desde o tempo imemorial que o líder inscrevia em si certos signos distintivos. O mesmo acontece com as fardas… não são iguais para todos. Ajudam a organizar plataformas de entendimento e abrem (ou fecham) linhas de ação e comunicação. Binariamente, como os computadores. Fazem parte da (r)evolução tecnológica.
- “Em Simulacros e simulação (1981), Baudrillard diz que a ilusão do sistema consiste em oferecer uma explicação perfeita descolada da realidade imperfeita. Sustenta que a sociedade e a economia funcionam porque as pessoas acreditam que existe uma racionalidade intrínseca na economia e na sociedade. O que ele chama de Disneyworld é a máquina invisível que dá suporte a essa crença. Em Disneyworld o trabalhador não é uma pessoa, mas um signo. O tempo está sincronizado, o espaço obliterado, ambos são representados em um mesmo contexto. Lidamos com uma metástase generalizada, o clone do mundo e do nosso universo mental (Baudrillard, 2000). O trabalho e o trabalho-lazer invadem a vida segundo um código espaçotemporal hegemônico.”
Podia agora falar de Second Life e da virtualização como estratégia de pesquisa e descoberta de novos mundos. E dos jogos outra vez, dos usos positivos que podem ter em educação. Criar signos, organizá-los, pensá-los estruturá-los pode ser uma reviravolta à génese bélica da toda a tecnologia Vejam-se as origens e invenções do MIT e AT&T / Bell Company, veja-se o caminho que percorreram das aplicações de guerra até às grandes comunicações…
Por outro lado, imaginamos a comunicação em rede, no ciberespaço e em cibercultura sem signos, códigos, senhas, alter-egos?
Quase parece ser uma grande fatalidade esta revolução tecnológica, se a virmos assim:
- “O sistema hegemônico transforma os valores: impõe a cultura do simulacro, em que o sentido da existência é irreal, é simulado, em que o real é perdido, os significados são abolidos pela saturação dos signos. No sistema hegemônico, devemos todos, sob pena de repressão social, ter uma posição; no escritório como na praia, na fábrica como em frente à TV. O sistema nos treinou para crermos que o trabalho, a tecnologia, a cultura da informação, o lazer são desejáveis. A nossa realidade é codificada, é constituída de senhas (Baudrillard, 2000). Fomos retribalizados (Baudrillard, 1970) segundo o que consumimos. O trabalhador é uma cópia dos outros trabalhadores e, no tempo, uma cópia de si mesmo. Somos todos replicantes.”
- “A era do código supera a era do signo. Não produzimos mais, re-produzimos.”
Quem se revê aqui?
Eu não e Virilio também não. É no coletivo, na rapidez da comunicação, que pode haver raciocínio e vozes dissonantes – anulação dessa hegemonia e pensamento crítico:
Há duas partes. Há o conhecimento, mas também a noção da sua difusão. E, como é difundido, é muito mais difícil centralizar o controle. E, enquanto houver uma cultura de crítica a ideias – e a difusão das ideias favorece essa crítica -, então estaremos a salvo. Assim que tivermos uma cultura em que a crítica é eliminada, mesmo que o controle central seja benevolente ou inteligente, pode haver erros. E não haverá nenhum mecanismo para corrigi-los. A ideia de uma sociedade em difusão é a forma mais confiável e segura de avançar.
Virilio – Penser la Vitesse (00:11:56.16 – 00:12:54.28)
Referências
- Baudrillard, J. (1999). Simulacros e Simulação. Relógio d’Água.
- Lévy, P. (1999). Cibercultura. Editora 34.
- Oppenheimer, Andrés. (2015). ¡Crear o morir! : cómo reinventarnos y progresar en la era de la innovación. Buenos Aires: Debate.
- Oppenheimer, Andres. (2019). The robots are coming!: The future of jobs in the age of automation (E. E. Fitz (trans.)). Vintage Books, a Division of Penguin Random House Llc.
- Paoli, S. (2008). Paul Virilio – Penser la Vitesse [YouTube]. In La Générale de Production / ARTE France. https://www.youtube.com/watch?v=-zbdiFqbTnw
- Virilio, P. (1993). A Inércia Polar. Dom Quixote.
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