Informação, Alienação, Escapismo e Educação

Segundo Baudrillard, a explosão da informação e a necessidade de prender o espectador/leitor à mesma tem consequências. Além disso, há interesses que fazem com que a notícia possa ser encenada ou criada para fins políticos ou para forçar a venda de um produto, por exemplo. Cabe ao receptor da informação ser céptico/crítico e não ser cúmplice da campanha da desinformação. Não podem escolher o engano de livre vontade, ou acabaremos a “consumir” as fake news, e/ou, pior ainda, a procurá-las por iniciativa própria.

Luís André
Fórum MPeL de Sociedade em Rede – Simulação Argumentativa sobre a Revolução Tecnológica

Começo pelo fim: “Cabe ao receptor da informação ser céptico/crítico”. Crítico, sim. Céptico será pouco funcional num universo que cada vez mais precisamos do outro e de conhecer bem o nosso in situ, o nosso lugar para nos relacionarmos com tudo que nos rodeia, ainda que através das tecnologias. Na minha última resposta à Ester, abordo a importância do pensamento crítico.

E sim, é verdade que Virilio se posiciona criticamente e em sintonia com Baudrillard, ao fazer afirmações destas: “as tecnologias extra-veiculares da interactividade instantânea exilam-nos de nós próprios e fazem-nos perder a derradeira referência psicológica” (Inércia Polar, p. 125).

Mas como ele próprio diz, o carro traz o acidente e “a catástrofe torna-se o alfa e o ómega da cosmogonia contemporânea: explosão causal (BIG BANG), implosão final (BIG CRUNCH), os físicos caem na armadilha da sua lógica cosmológica, obrigados a atribuir ao acidente a importância primeira que ontem atribuíam à substância.” (Inércia Polar, p. 71)

Por outras palavras, grandes e muito distribuídos inventos, grandes riscos. E por isso defende a criação de uma “Universidade da Dromologia” que permita estudar e fazer face a esses novos e grandes riscos. 

A minha segunda citação de Andrés Oppenheimer, serve precisamente para ilustrar a importância do trabalho colaborativo e da cooperação que é preciso ter, mesmo com quem não se conheça, para descortinar sentidos, abrir caminhos e continuar a inovar. Não se trata de escapismo em jogos virtuais ou de alienação. O contexto ali é de trabalho, concretamente em Silicon Valley, e é dado como exemplo de pessoas que fazem a diferença para criar mais e melhor. Não para se alienarem.

Finalmente, sobre esta tua abordagem:

Também já se podem ver professores a levar tablets (das escolas) para a sala de aula com o intuito de fazer avaliações com correcções automatizadas, poupando tempo aos professores e aproximando mais os alunos das tecnologias (o que não é necessariamente uma vantagem).

Luís André

Se fosse mazinha perguntava-te que fazes tu aqui, a querer aprender sobre Pedagogia do eLearning… mas como não sou, digo-te que sou das que leva os tais tablets e “pior”: obrigo os alunos a usar os telemóveis para pesquisarem coisas e depois criarem eles próprios questionários para os colegas responderem. E o que menos me interessa nisso tudo costuma ser a avaliação que os alunos depois têm, embora os tais questionários até sejam de resposta automática.

Não é bem essa meta que interessa, sabes? É mais o percurso… e a paisagem.

Gosto de ver alunos como os tais de Silicon Valley a encontrar soluções para problemas que não sabiam que iam ter. E gosto do brilho nos olhos deles quando as encontram. O mesmo brilho nos olhos que, dizem, Virilio tinha quando proferia as suas teorias visionárias sobre a dromologia.

Mesmo quando os alunos encontram e criam soluções por acidente, é sempre positivo. Ah, e já agora, acidente não é necessariamente algo negativo ou trágico (embora possa ser, e muito, como Virilio alerta ao falar do CERN, por exemplo). 

Acidente pode ser a casualidade ou imprevisto em direção ao futuro

Deixo-te com o urbanista de pés bem assentes no chão, olhar brilhante e sedento de saber:

Escutemos ainda o velho Einstein: «O que distingue uma  teoria verdadeira de uma teoria faIsa? O seu prazo de validade!» Alguns anos ou dezenas de anos para a primeira, alguns dias ou meses para a segunda…

Inércia Polar, p. 79

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