A Propósito da Inteligência Artificial

Ao refletir sobre Virilio vs Baudrilard e a revolução tecnológica, abordei a nossa caminhada para um mundo cada vez mais artificialmente inteligente.

Sensível e atento, um colega reagiu:

Discordo apenas no ponto em que afirmas “Estamos a aprender com os nossos acidentes e ao mesmo tempo, acrescento eu, estamos a criar uma forma de inteligência paralela à nossa, mas que em breve superará a nossa.”, pois duvido que alguma vez a inteligência artificial ultrapasse a inteligência humana. É certo que a inteligência artificial consegue fazer várias tarefas em simultâneo e com uma rapidez muito maior, mas nunca conseguirá superar, por exemplo, a nossa capacidade na tomada de decisões. Mas não vou divagar mais pois não é este o foco da nossa discussão.

Luís André

Não resisti a responder.

Sobre a questão da Inteligência Artificial (IA)… não sei se, em última análise, a nossa reflexão sobre os autores não nos (re)conduzirá a ela…

Quando fiz aquela observação estava a recordar-me do que ouvi (audiobooks rule!) por Amy Webb em The Big Nine: How the Tech Titans and Their Thinking Machines Could Warp Humanity (2019).

Segundo a autora, as perspetivas para os próximos 50 anos podem fazer com que os cenários mais impensáveis ocorram mesmo…

A evolução da IA, segundo Webb, é mais ou menos assim

As aplicações da ANI (artificial narrow intelligence) já fazem parte da sociedade moderna; incluem filtros de spam, transcritores de voz, carros auto-conduzidos e assistentes virtuais como o Siri da Apple e o Alexa da Amazon, ambos alimentados por DNNs (deep neural networks).

À semelhança do cérebro humano, um DNN tem milhares de neurónios simulados ligados entre si e dispostos em centenas de camadas complexas. Ao enviar e receber sinais de e para os outros, essas camadas de neurónios são capazes de fazer algo chamado aprendizagem profunda (deep learning). Isso significa que podem ensinar-se a si mesmos como fazer coisas com pouca ou nenhuma supervisão humana; não precisam ser ensinados pelos seus criadores humanos, como os programas de computador de antigamente.

Acontece que há empresas de tecnologia a bombear sistemas e programas de ANI em muitas coisas, aplicando-os em cada vez mais domínios da vida humana. Já estão a trabalhar nos nossos telemóveis, hospitais, laboratórios de investigação genética, processadores de aplicações de empréstimo e até nas interfaces estéreo de muitos carros novos. À medida que esta tendência continuar, os sistemas ANI acabarão por se entrelaçar com quase todos os aspectos da nossa vida diária.

Nos seus vários domínios, os sistemas ANI aproximam-se, igualam ou superam mesmo a inteligência humana – mas só nos limites dos seus domínios. 

Mas os mesmos princípios básicos por trás dos programas ANI alimentados por DNN também podem ser usados para criar sistemas mais generalizados que podem lidar com um escopo mais amplo de tarefas, como a realização de pesquisas médicas ou a participação ativa em reuniões organizacionais com uma voz semelhante à humana. 

Quando isso acontecer, a ANI será ultrapassada pela AGI (artificial general intelligence) inteligência geral artificial. Nessa altura, a IA estará em paridade com os humanos em termos de inteligência geral.

A partir daí, o céu será o limite. Como os programas ANI atuais, os sistemas AGI serão capazes de se melhorar continuamente a uma velocidade vertiginosa. O que lhes permitirá superar a mente humana… por triliões de vezes o seu nível de inteligência. Nesse ponto, a IA terá alcançado a super inteligência artificial ou ASI (artificial superintelligence).

Velocidade… sempre ela. 

Amy Webb estima que a AGI seja desenvolvida daqui a 20 anos, mais ou menos, e que a ASI seja um facto em 2070. 

Portanto, temos uma janela de tempo muito pequena para moldar o futuro em IA da humanidade.

Dá que pensar, não…?

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